A algum tempo venho
sonhado em fazer uma bicicleta voadora. Acho que porque quando acordo
em meus sonhos a primeira coisa que vou fazer é voar. Sobrevoar as
cidades. Entre-voar pelo espaço. Dançar, se integrando ao coletivo
comum como as andorinhas de Riachão. Busquei perceber de onde essa
ideia, um tanto que maluca, veio aparecer.
Lembro que ouvi falar de
Ícaro, da Grécia, que colocou asas em si próprio com a ajuda dos
próximos. Asas como as de um pássaro e não só. Conseguia voar
baixinho batendo as asas. Mas, Ícaro voava por mais tempo, quando
subia o morro. Observava a natureza da paisagem e saltava. Voava por
algum tempo. Sentia-se pleno e por sentir-se assim, percebeu, não
que o mundo era grande, pois nem era, mas que ele era pequeno, mas
que junto aos outros era uma multidão. Ícaro, acredito que por não
ter uma cola boa em sua época, utilizou cera e sempre que chegava o
sol, suas asas derretiam.
Vejo o sol, nesta
história como alguém que faz você desacreditar em seus sonhos, por
mais simples e impossíveis que sejam. Costumo cantar para minha
filha: “Ô dorme e sonha, ô dorme e sonha, com o improvável
possível. Aqui e ali, ali e aqui, nada é impossível”, gostaria
que essa canção fosse ouvida por todas as crianças pelo menos uma
vez.
Da Vinci, ele criou uns
desenhos de máquinas voadoras, dizem que seus desenhos são os
primeiros Helicópteros¹, eu digo que são poesias. A pouco tempo vi
uns rabiscos e uns escritos a mão de Da Vinci. Os desenhos
apresentavam estudos sobre os pássaros², ou melhor, sobre o
voo dos pássaros, seus movimentos e percursos, formatos, distâncias,
angulações, peso, tempo.
Percebo que esse é um
bom caminho para conseguir fazer a bicicleta voadora.
Perguntei para Carlinhos,
amigo que ama música e aprendeu marcenaria com seu pai, se dava pra
fazer uma bicicleta de madeira reciclada, ele disse que sim e que
possível e que iríamos fazer, e vamos. Depois pensamos que essa
bicicleta de madeira poderia ter uma vela como as de um barco e que
poderíamos em um momento de grande vento, abrir a vela e deixar que
os ventos nos levassem mais longe. Seria bom para descansar. Uma
bicicleta de madeira e héolica. Ficamos imaginado uma rua de repleta
de ciclobarcos navegando pelas ruas e desviando dos buracos
que são muitos.
Fui em um bambuzal pela
primeira vez com o Vô Justino, na lua minguante, para que dure mais
e que os cupins não ataquem, pois a ceiva da planta está voltando
para as raízes, o que evita o interesse dos insetos. Acabei não
observando e cortei um broto, que serve para comer, o mestre Urias
disse que é muito bom. Antes de cortar devemos observar se o bambu
que iremos cortar está maduro, só depois arremessar o machado. Todo
o cuidado deve ser tomado, pois o bambu fica muito afiado quando
cortado. Não neste dia, mas por este dias em meio ao bambuzal, tive
a ideia de fazer uma bike de bambu e não mais de madeira reciclada.
Procurei na internet e encontrei alguns livros em espanhol que
ensinavam, mas pouco material livre e em português. Encontrei alguns
vídeos, mas não ensinavam com muitos detalhes. Mostravam somente a
montagem e sua maioria e pouco dos cortes e tratamento do bambu. Vi
que o melhor material para fazer as amarrações das emendas dos
bambus, eram de corda de cânhamo pela grande resistência.
Santos Dumont, fui em sua
casa na cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro. E a primeira coisa que
fiz foi procurar os manuscritos e desenhos dele, queria saber como
fez seu avião voar. Haviam poucos materiais por lá: algumas fotos,
nenhum manuscritos, devem estar em algum museu, mas ninguém por la
soube informar. Observei algumas fotos que estavam por lá em
detalhes. Os trabalhadores que estavam com ele, eram pessoas bem
simples e que pareciam felizes em estarem fazendo aqueles
experimentos. Quem não estaria. Observando os projetos já prontos
nas fotos, percebi que não eram muito complexos em estrutura, embora
os fossem em precisão.
Fico imaginando que estes
documentos não estavam acessíveis para que as pessoas comuns não
tivessem mesmo a curiosidade/coragem de fazer seu próprio avião em
casa. Mas tem sempre um doido querendo voar. Ao ler sobre Santos
Dumont o que ele não estava preocupado em patentear nada e que
gostaria que outros pudessem usar sua invenção, diferente dos
irmãos White que faziam experimentos secretos. Santos Dumont com seu
1,55 m de altura e 50 kg buscava fazer possível o impossível, mesmo
ouvindo muitas risadas.
Depois que retornei a São
Luís, comentei, com amigos, sobre o que vi na casa de Santos Dumont,
pessoas iguais a gente e que acreditam e dão asas aos sonhos das
outras. Na Biblioteca Comunitária da Residência 05 chegou um livro
sobre a historia de Santos Dumont e o que mais me chamou a a atenção
nem foi o 14 Bis, mas seu projeto de ultraleve número 20, feito com
asas de bambu como seda japonesa e que voava a 6 m do chão a uma
velocidade de 100 km/h com um motor de 2 cilindros 20 cavalos
somente. E o mais interessante era que parecia uma bike voadora,
vejam só.
Gostaria mesmo de fazer
uma bicicleta voadora. Hoje, faço voar histórias através das
Bibliocicletas que rodam pelas ruas e pousam sobre os olhares atentos
de quem quiser voar junto. Gosto mesmo de sair por aí levando poesia
e histórias de esperança para as pessoas, em todos os lugares.
Queria dizer para Santos Dumont que a invenção que ele iniciou,
está sendo utilizada para transmitir esperança, amor, liberdade e
paz para as pessoas. Gostaria de convidá-lo para voar com as
Bibliocicletas e já voa, distribuindo a possibilidade de sonhar e
imaginar e para todxs. Não em Paris/França, mas nas
periferias/invasões da cidade de São Luís/Maranhão.