Sobre a cidade que mora em nós

E quando a fonte jorrar?

E na boca da serpente cair sua água?

E de repente o povo acordará

Onde estão os poetas?

Onde irão se reencontrar

se já cortaram a mangueira

Que viviam a prosear?

Para que tanto carro? 

E a fuligem que cobre as árvores?

Para quê tanta fumaça?

É o trem de minério que invade casas

Inalo metal

Sou água e metal

A todo momento recrutamos narrativas sobre nós e inserimos o outro. Sem distinção. Os seres humanos são assim. Mas a questão deve ser a interação entre todas essas subjetividades em uma determinada região ou de outra forma a imposição de umas narrativas como únicas e verdadeiras. Devemos olhar para dentro, olhar para a maioria, pois também nos perguntemos, o que é ser minoria? Todos os lados são igualmente significativos.  Não é quantitativo quando falamos de seres humanos. Mas enquanto grupo existente no mundo, e assim como os voadores, os nadadores, os rasteiros, os andadores devemos buscar defender o coletivo. Devemos proteger-nos uns aos outros e não violentar corpos, emoções, histórias. Parece estar tudo errado. Mas de longe já viemos e continuaremos resistindo, enquanto rebeldes, residentes e sobreviventes neste planeta branco-canibalesco. O grito dos povos e comunidades tradicionais parece que não é escutado, pois o não ouvir se tornou uma auto proteção destrutiva. Precisamos todos nós repensamos o país que queremos, pois este país fruto do estupro nunca foi a pátria de quem por ele deu o seu sangue. Porém me pergunto como faremos isso se espaços como a Residência 05 fecham por falta de apoio?  

Foram mais de 10 mil leituras realizadas, 10 publicações artesanais mais de 300 crianças alcançadas diretamente em 3 anos de projeto com o Bibliocicleta, Acampamento literário e Biblioteca Comunitária. E o que eu falo é no sentido de perceber os privilégios. Se eu posso colaborar com o outro ali se cria uma corrente. O que fazemos com o nosso tempo? O sonho não é sozinho, ele se faz com o outro.

A cidade nasce do colonialismo e continua a crescer em meio a violência capitalista. A cidade de São Luís nasce da expulsão e genocídio do povo Tupinambá e do trabalho forçado dos africanos, homens do campo e operários que foram escravizados e ainda o são nestas terras.

Houve um grande estupro a natureza deste lugar e quem não percebe está em coma. E quem se observa nascido na selva de pedra, ou concretou-se ou rega-se todos os dias para criar raizes onde já deveriam ter brigado.

Nossos pensamentos (a representação que nos criamos e percebemos retornar) são chave para que nossos corpos habitem qualquer lugar.

A cidade deveria ser pensada a partir da mata e de sua ancestralidade e não o contrário. 

O que nos move a fazer algo é o que vemos no futuro em resposta ao passado que é agora.

Ywyra Ka’i (Árvore Macaco)

Brenna Maria

Tambortnik 1

Nossas ancestralidades. Nosso corpos que habitam novas formas de pensar o universo. Nossas lutas e renascimentos. Nossas sobrevivências em um país erguido em cima do apagamento das referências e histórias negras. Nossos pensamentos sobre um hoje possível. A nossa base é a força de resistência das comunidades. Lançamos no espaço Tambortnik 1.

bicicleta voadora

A algum tempo venho sonhado em fazer uma bicicleta voadora. Acho que porque quando acordo em meus sonhos a primeira coisa que vou fazer é voar. Sobrevoar as cidades. Entre-voar pelo espaço. Dançar, se integrando ao coletivo comum como as andorinhas de Riachão. Busquei perceber de onde essa ideia, um tanto que maluca, veio aparecer.

Lembro que ouvi falar de Ícaro, da Grécia, que colocou asas em si próprio com a ajuda dos próximos. Asas como as de um pássaro e não só. Conseguia voar baixinho batendo as asas. Mas, Ícaro voava por mais tempo, quando subia o morro. Observava a natureza da paisagem e saltava. Voava por algum tempo. Sentia-se pleno e por sentir-se assim, percebeu, não que o mundo era grande, pois nem era, mas que ele era pequeno, mas que junto aos outros era uma multidão. Ícaro, acredito que por não ter uma cola boa em sua época, utilizou cera e sempre que chegava o sol, suas asas derretiam.

Vejo o sol, nesta história como alguém que faz você desacreditar em seus sonhos, por mais simples e impossíveis que sejam. Costumo cantar para minha filha: “Ô dorme e sonha, ô dorme e sonha, com o improvável possível. Aqui e ali, ali e aqui, nada é impossível”, gostaria que essa canção fosse ouvida por todas as crianças pelo menos uma vez.

Da Vinci, ele criou uns desenhos de máquinas voadoras, dizem que seus desenhos são os primeiros Helicópteros¹, eu digo que são poesias. A pouco tempo vi uns rabiscos e uns escritos a mão de Da Vinci. Os desenhos apresentavam estudos sobre os pássaros², ou melhor, sobre o voo dos pássaros, seus movimentos e percursos, formatos, distâncias, angulações, peso, tempo.

Percebo que esse é um bom caminho para conseguir fazer a bicicleta voadora.

Perguntei para Carlinhos, amigo que ama música e aprendeu marcenaria com seu pai, se dava pra fazer uma bicicleta de madeira reciclada, ele disse que sim e que possível e que iríamos fazer, e vamos. Depois pensamos que essa bicicleta de madeira poderia ter uma vela como as de um barco e que poderíamos em um momento de grande vento, abrir a vela e deixar que os ventos nos levassem mais longe. Seria bom para descansar. Uma bicicleta de madeira e héolica. Ficamos imaginado uma rua de repleta de ciclobarcos navegando pelas ruas e desviando dos buracos que são muitos.

Fui em um bambuzal pela primeira vez com o Vô Justino, na lua minguante, para que dure mais e que os cupins não ataquem, pois a ceiva da planta está voltando para as raízes, o que evita o interesse dos insetos. Acabei não observando e cortei um broto, que serve para comer, o mestre Urias disse que é muito bom. Antes de cortar devemos observar se o bambu que iremos cortar está maduro, só depois arremessar o machado. Todo o cuidado deve ser tomado, pois o bambu fica muito afiado quando cortado. Não neste dia, mas por este dias em meio ao bambuzal, tive a ideia de fazer uma bike de bambu e não mais de madeira reciclada. Procurei na internet e encontrei alguns livros em espanhol que ensinavam, mas pouco material livre e em português. Encontrei alguns vídeos, mas não ensinavam com muitos detalhes. Mostravam somente a montagem e sua maioria e pouco dos cortes e tratamento do bambu. Vi que o melhor material para fazer as amarrações das emendas dos bambus, eram de corda de cânhamo pela grande resistência.

Santos Dumont, fui em sua casa na cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro. E a primeira coisa que fiz foi procurar os manuscritos e desenhos dele, queria saber como fez seu avião voar. Haviam poucos materiais por lá: algumas fotos, nenhum manuscritos, devem estar em algum museu, mas ninguém por la soube informar. Observei algumas fotos que estavam por lá em detalhes. Os trabalhadores que estavam com ele, eram pessoas bem simples e que pareciam felizes em estarem fazendo aqueles experimentos. Quem não estaria. Observando os projetos já prontos nas fotos, percebi que não eram muito complexos em estrutura, embora os fossem em precisão.

Fico imaginando que estes documentos não estavam acessíveis para que as pessoas comuns não tivessem mesmo a curiosidade/coragem de fazer seu próprio avião em casa. Mas tem sempre um doido querendo voar. Ao ler sobre Santos Dumont o que ele não estava preocupado em patentear nada e que gostaria que outros pudessem usar sua invenção, diferente dos irmãos White que faziam experimentos secretos. Santos Dumont com seu 1,55 m de altura e 50 kg buscava fazer possível o impossível, mesmo ouvindo muitas risadas.

Depois que retornei a São Luís, comentei, com amigos, sobre o que vi na casa de Santos Dumont, pessoas iguais a gente e que acreditam e dão asas aos sonhos das outras. Na Biblioteca Comunitária da Residência 05 chegou um livro sobre a historia de Santos Dumont e o que mais me chamou a a atenção nem foi o 14 Bis, mas seu projeto de ultraleve número 20, feito com asas de bambu como seda japonesa e que voava a 6 m do chão a uma velocidade de 100 km/h com um motor de 2 cilindros 20 cavalos somente. E o mais interessante era que parecia uma bike voadora, vejam só.

Gostaria mesmo de fazer uma bicicleta voadora. Hoje, faço voar histórias através das Bibliocicletas que rodam pelas ruas e pousam sobre os olhares atentos de quem quiser voar junto. Gosto mesmo de sair por aí levando poesia e histórias de esperança para as pessoas, em todos os lugares. Queria dizer para Santos Dumont que a invenção que ele iniciou, está sendo utilizada para transmitir esperança, amor, liberdade e paz para as pessoas. Gostaria de convidá-lo para voar com as Bibliocicletas e já voa, distribuindo a possibilidade de sonhar e imaginar e para todxs. Não em Paris/França, mas nas periferias/invasões da cidade de São Luís/Maranhão.

pequeno cazumba

Os Cazumbas parecem com bichos, mas não são bichos, não bichos como: cavalos, patos, onças, macacos… são outros tipos espíritos.

O primeiro brinquedo que o Pequeno Cazumba ganha de presente, ainda neném, é uma maracá.

Mas daí você me pergunta, porque não é um sino, já que é este que ele usa para dançar nas festas para ressuscitar o boi?

O Pequeno Cazumba é na verdade um curumim (criança indígena), que vai crescendo e aprendendo a viver em harmonia com a natureza, com os animais, as plantas e os ciclos de vida com suas forças de ancestralidade e tradição.

Depois de grande, o Pequeno Cazumba, se torna um Pajé, aquele que tem grande conhecimento sobre a vida. O Pajé é o responsável por trazer a cura para as pessoas na Aldeia, através do uso de plantas de medicinais, de sua sabedoria, músicas e diálogo com os espíritos da floresta.

O Cazumba é a forma mais segura que os Pajés, encontraram para entrar em contato com os Pariwat (não-índio) e trazer a cura para aqueles que a mais de quinhentos anos vem destruindo a natureza que os povos originários cuidavam tão bem, a muitos e muitos anos.

O Cazumba utiliza o sino para falar com o boi, pois é a música que o boi entende.

O Louva-deus

Ele mirou nos meus olhos e fez uns movimentos leves, esquivava-se, estava pronto para se defender ou pular fora dali. Alguns momentos ele perecia ter quatro olhos que giravam ao redor de si mesmos, quatro pontinhos rodopiantes naquela cabecinha triangular que muito dizia. Me dizia coisas sobre proteger e sobre amar e sobreviver. Passamos muitos momentos conversando. Falei que havia visto um vídeos uma vez que a fêmea de sua espécie comia sua cabeça na hora do coito. Dançamos. Subiu em meu ombro. Subiu em minha cabeça. Andamos de bike. Falei que seria melhor ficar por ali no riozinho, que a cidade é muito ruim, tem carros, motos e máquinas, tem portos e bases que destoem comunidades, tem poluição do ar e do mar, tem sujeira por toda parte, as pessoas não respeitam o saber da natureza e dos povos indígenas, não percebem que todas nossa natureza está sendo destruída em 500 anos e que foi protegida a milênios por estes povos evoluídos. O que vale é o dinheiro, mas ninguém come dinheiro. Ao sair daqui não poderei te proteger contra ganância do capitalismo que leva as pessoas a derrubarem juçarais, buritizais e ecoarem esgotos para os rios. Lá fora, meu amigo, gritamos nas ruas sobre a necessidade de lutarmos juntos, mas parece que ninguém escuta. Não dá para entender. Pouco depois ele voltou pra mata, com seu corpo verde, suas mãos esquivas e suas quatro patas firmes para um pulo certeiro ao lugar que ainda pode estar e sobreviver, ou quem sabe, só queria uma carona para um encontro marcado para louvar-a-deusa-mãe-natureza. Seguimos nossos caminhos.

Ouvi em um tempo não muito distante e como uma imposição necessária e visionária que: “não se deve confundir trabalho com a vida”. Para mim essa e uma afirmação não-válida. Minha vida/trabalho/arte são as próprias essência de viver. As pessoas que pensam separar a vida de seus trabalhos estão, a meu ver, fortemente equivocadas. Sua vida acontece em qualquer lugar, no trabalho ou no lazer. Agora que seu trabalho for um peso, ou deixe que isso te esmague ou abandone.

Máscaras Esculturas Africanas 2018

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Hoje entrei no CCVM para ver a exposição Africana – o dialogo das formas.

Foram muitas as reações que vivenciei.

Em relação a energia do espaço, muito carregada e não seria diferente, pois cada máscara ou objeto ali presente carrega a sua história, ancestralidade e espiritualidade. mas surgem diversas perguntas: quantos objetos destes ali foram roubados das comunidades? qual o respeito colocado na exposição quanto a relação destes objetos com descendentes africanos em São Luís? essas peças não deveriam estar nos rituais e em suas comunidades? não serão algumas destas sagradas?

Fui com um amigo que seu orixá estava presentificado em uma máscara e com o respeito a sua espiritualidade houve um toque no mesmo. O vigia da exposição veio falar que não poderia tocar nas peças, daí lhe fiz a seguinte afirmação: Essas peças todas são nossas, foram roubadas de nossa cultura e de nossos povos. Creio que cada toque deve ser interpretado a sua maneiras e todos devem ser respeitados em suas culturas.

O vigia disse: São normas dos superiores, mas deixe essa sugestão no balcão.

A exposição é um grande encontro de povos, se eles desejam estar ali já é outra questão.

Acredito que cada peça, deveria ter um descrição um pouco maior que somente seu titulo e provável origem. Há muito o que melhorar, mas trazer essa exposição para nossa terra também traz muita reflexão a cerca de nossas origens como nação negra.

 

Biblioteca Comunitária da periferia de São Luís Indicada a Prêmio Nacional de incentivo a leitura

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Foi anunciado hoje a indicação do Projeto “Bibliocicleta: Posso Fazer uma Leitura?” da Biblioteca Comunitária da Residência 05 para a final do 3º Prêmio IPL – Retratos da Leitura. O prêmio busca dar destaque a iniciativas em diversas áreas em torno do livro e do incentivo à leitura do Brasil. Este ano se inscreveram 150 projeto de 24 estados e somente 41 projetos foram selecionados para a etapa final do prêmio, onde serão premiados 3 projetos em 4 categorias diferentes.

Nunca havia sido indicado um projeto maranhense e vale ressaltar que este é um dos mais importantes prêmios do País para uma Biblioteca.” 

Foram inscritos projetos de 24 estados e somente 10 foram selecionados na categoria biblioteca. Um representante da BC da Residência 05 estará em  São Paulo no dia 10 de Dezembro para a cerimônia de encontros e celebração . 

SOBRE A BIBLIOTECA:

A Biblioteca da Residência 05 fica situada da Cidade Olímpica, periferia de São Luís. Surgiu a 3 anos a partir da necessidade da própria comunidade e funciona através de voluntariado. O nome foi escolhido pelo fato curioso dela funcionar dentro de uma casa, isso mesmo, a Biblioteca Comunitária da Residência 05 é uma casa aberta à comunidade e todos podem se reunir para fazer oficinas, trabalhos, receberem uma leitura ou levar um livro emprestado. A Residência 05 é integrante da RNBC – Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias que atualmente tem 114 bibliotecas em todo o país. As pessoas podem colaborar com o projeto a partir de doações de livros, equipamentos ou serem  financiadores como socixs-amigx da biblioteca.

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A Plataforma Pro Livro é uma ferramenta para orientar e acolher a inscrição de projetos para o Prêmio IPL – Retratos da Leitura, e, para divulgar e qualificar os projetos premiados. Busca oferecer um mapeamento de ações de promoção da leitura e formação leitora desenvolvidas em todo o país – pelo governo ou pela sociedade civil – para valorizar, divulgar e possibilitar o acesso e o intercâmbio de experiências, estudos e ideias.

Link para site do IPL – Retratos da Leitura

http://plataforma.prolivro.org.br/instituto-pro-livro-apresenta-os-finalistas-da-3a-edicao-do-premio-ipl-retratos-da-leitura/

Contato: (98) 981767891 | 981194420 residenciazerocinco@gmail.com

www.instagram.com/residencia05

Endereço: Rua 02, Quadra I, Bloco A – Residência 05 – Cidade Olímpica.

Funciona de diariamente sem horário pré-definido.

o pobre

o pobre tem o aspecto humilde, sem bens ou sem a necessidade existencial dele. agrega a si somente o lhe traz memória. compartilha seus pensamentos e criações de forma livre e espontânea. acredita que quantos mais sonhos bons geramos no mundo, mais ele se transforma em um lugar melhor. não mentir é um principio da terra. busca o máximo de transparência, leveza e clareza na relação com os outros. atencioso, prestativo, amigo, companheiro à artista e louco. arteducador do lixo, produz comunicação a partir de lixos dos outros: caixas de leite são vasos para plantas ou mascaras, garrafas pet são peixes iluminados, carros, ideias simples em movimentos de alegria, sonhos em multiplicação de sonhos em realidade. o pobre caminha com seus pés descalços para sentir a energia da terra. busca se alimentar somente do que a própria natureza lhe dá sem precisar tirar a vida de outro ser, mas percebe cada ambiente para pronunciar sua forma de pensar ou não. colorido, ou terroso e seu espirito é livre para transitar entre as varias cores de deus e mesmo sobre sua própria ausência. “sem diálogo não há comunicação, haverá somente imposição”. sua moradia é onde estiver, respeitando o espaço do outro e o seu. reconhece seus erros, pede perdão. o pobre deve ser escutado, pois somente os ricos querem ter voz. o pobre chora e acolhe quem esta chorando. todos são iguais é obvio pra ele. o pobre somente quer ser exemplo para ele mesmo. o pobre quer entender a vida, por outros meio possíveis, e diferentes dos que já foram impostos por livrinhos de histórias dos ricos brancos europeus. O pobre só quer livros para sua biblioteca comunitária, compartilhar histórias e seguir seu caminho de boa, sem esbarrar nem ocupar o espaço de ninguém. a menos que seja nesta fricção, onde nossos pensamentos se cruzam nas mesmas palavras. só o amor importa. O pobre traz em seu olhar a certeza de que estará tudo bem, independente da imposição do outro. Estará tudo bem.

Os pássaros de garrafa pet

 

 

Dois corpos caminham sobre a praia do Araçagi.

Um olhar de relance. Pássaros de garrafas pet se arremessam no voo.

Um engano. Os pássaros continuam parados na areia.

O arremesso veio das mãos de outro corpo – dito humano.

Quem vê o voo sonha acordado com 500 anos à frente.

Mas, a 500 anos antes deste pouso, na orla, só voavam aves, mesmo de relance.

 

escrito e desenhado para Carolina Libério

Arte Contemporânea no Maranhão

Há de se convir que a arte no Maranhão é conhecida principalmente pela grande efervescência da cultura popular, bumba-boi, cacuriá, tambor de crioula, Dança do lelê, entre outras, isso não quer dizer que a produção artística seja resumida somente a essas formas de expressão. Podemos perceber com isso que a força da tradição ainda supera as produção de arte contemporaneidade, mas isso é ruim? Embora se evidencie a produção mais popular da arte isso não quer dizer que não há uma produção diferenciada dentro do estado e embora se pense num atraso artístico, prefiro acreditar que esse tipo de afirmação é um tanto equivocada e carregada de pré-conceitos de uma cultura dominante.

Alguns artistas tem se destacado por sua linguagem singular e por suas potentes formas de expressão e inserção dentro do cenário nacional e internacional, mas pouco evidenciados dentro da cultura local. Artistas estes, que tem explorado variadas vertentes artísticas, tais como dança,  instalação, pintura, fotografia, performance, vídeo arte, videodança. Mas onde estão estes artistas? Logo, surge essa pergunta e a respostas surge como uma outra pergunta, mas retórica: que tipo de arte estamos buscando e onde? Acredito poderíamos também substituir essa pergunta por: onde estão os críticos e curadores da obra de arte maranhense? Não há críticos e com isso não se sabe o que se produz; não há curadores, pois não há espaços para a intervenção e pesquisa do artista e; quais as pesquisas acadêmicas e onde encontrar as que foram feitas, se foram. Com isso os poucos artista que produzem, acabam por produzirem a margem, fora do estado ou com recursos próprios oriundos de outros tipos de trabalho.

Dentre estes artistas que produzem dentro do estado podemos citar por sua estética não tradicional ou convencional apropriação de outros espaços para criação de suas obras: Marília de Laroche (fotografia, arte urbana, performance), Erivelto Viana (performance, dança), Raurício Barbosa (body art), Marcio Vasconcelos (fotografia, performance), Thiago Martins de Melo (pintura, performance), Gê Viana (arte urbana, performance), João Almeida (tipografia artística, artes visuais), Efeito Colateral e Furta Tinta (coletivos de grafite), Porcolitos (intervenções urbanas), Bruno Azevedo (escritor), Celso Borges (poesia), Tairo Lisboa (filme experimental), Wilka Barros (performance fotográfica), Uimar Junior (performance), Ton Bezerra (performance, pintura),  Maria Zeferina (Arte Urbana),  Tieta Macau (Dança, performance), Kenny Oliveira (arte não especificada), Diones Caldas (vídeo arte), Lucian Rosa (cinema), BemDito Coletivo (performance, Intervenções urbanas, dança).

As únicas mostras de arte do Estado são: Semana de Dança e a Semana do Teatro, mas que possuem critérios muito específicos de aceitação e seleção dos trabalhos “nada que não entenda no ato em que vejo poderá entrar”, recorte de pensamento próprio. Outra importante mostra, mas essa realizada a partir de iniciativa não governamental é o Conexão Dança que neste ano está em seu sexto ano de execução que propõe outro olhar sobre a dança contemporânea e performance, mas e as outras artes onde podemos fruir o que está além das pinturas de faixadas de casarões e barquinhos ao por do sol?

Neste contexto o Festival de Arte Contemporânea/MA, tem se proposto desde o ano passado a explorar estes tipos de questionamentos e a dar visibilidade ao artistas que produzem obras que  não são aceitas em mostras de teatro, dança e artes visuais do Estado, assim como de outros. Propondo além das apresentações, exposições e demonstrações de processos, a discursão de temas relevantes para o campo artístico, palestras, rodas de conversas, ou seja, o pensamento crítico para o artista e para o público.

“com que língua você fala”. É uma pergunta? mas onde está a interrogação? O artista na contemporaneidade propõe, quase sempre em sua obra, a mesma sensação que esta pergunta sem “?” nos causa, desconforto, inquietação,  reflexão e acima disto, nos força a participar diretamente da obra e não somente estar num lugar de conforto e comodidade, onde somente me alimento do que vejo, escuto, sinto e não tenho nenhuma necessidade de pensar ou realizar o que podemos chamar de feedback, retorno para ao obra, o outro ou meu redor ou para o artista.  Portanto, o FAC, surge como a ponta refeita de um lápis, para continuar a escrever nas mais diversas línguas da arte, possibilitando o convívio harmônico entre as expressões artísticas contemporâneas e as tradicionais. 

Como fazer um projeto?

Roteiro de perguntas que facilitaram a concepção do seu projeto.

Responda de forma direta e objetiva. Depois junte todas as respostas e acrescente se for necessário mais algum detalhe. Seu projeto estará pronto. BOA SORTE!

Dúvidas entre em contato pelo e-mail: layobulhao@yahoo.com

Apresentação

• O que é o projeto?

• Qual seu objetivo geral?

• Quando e onde será realizado?

• Quais são os principais envolvidos?

• Qual o público-alvo?

Justificativa

• Em que contexto se insere o projeto?

• Qual sua importância neste contexto?

• Por que foi pensado e proposto?

• Qual seu histórico (se houver)?

• Qual seu diferencial?

• Qual a experiência do proponente?

• Já foram desenvolvidas outras ações para o público-alvo do projeto pelo proponente?

Objetivo

•O que pretende com o projeto?

•Para que foi pensado e proposto?

•Qual o objetivo geral e os específicos do projeto?

Metas

•Quais são as metas a serem atingidas a partir dos objetivos do projeto?

•Quais são os benefícios culturais, sociais e econômicos derivados do projeto?

Estratégias de ação

• Qual a programação do projeto?

• Como ele será realizado? Existem etapas distintas? Quais?

• Quem são os responsáveis por cada etapa? Que atividades desenvolverão?

Público alvo

• Para quem o projeto foi pensado e proposto?

• Quais são as características (perfil) do público pretende atingir?

• Qual a estimativa de público?

Avaliação dos resultados

• O que precisa ser avaliado?

• Como pode ser avaliado?

• Como será apresentada esta avaliação? E para quem?

Cronograma

• Em que período as ações/etapas do projeto serão realizadas?

Orçamento

• Qual o custo de cada etapa do cronograma?

• Quais valores unitários e totais?

• Quais são as fontes previstas?

• Quanto será solicitado a cada fonte?

• Qual o valor total do projeto?

Mas você não disse!

um amigo mexeu com frenesi o cabelo, enquanto conversávamos em meu quarto e perguntou para minha irmã, Jamylle, de 9 anos o que ele estava fazendo. Ela em sua inocência disse: “você está arrumando o cabelo”, este replicou em seguida: “não! é dança contemporânea”. Ela olhou para nós e respondeu com segurança “mas você não disse!” e saiu do quarto. Ficamos em silêncio por algum tempo. Começamos a levantar diversos questionamentos sobre essa frase. Será que tenho que dizer para o público que arte estou fazendo? depende do lugar para dizer se é arte ou não? a arte tem que ser definida? pra quê definir? quem define o artista ou o público? como diferenciar uma arte da outra hoje? será que o artista está preocupado com essa definição? será que existe uma definição permanente para a arte?

 

desenho de Jamylle Bulhão

O que é videodança?

Quase sempre a corrente contemporânea do Videodança é confundido com vídeo de dança ou com a vídeo arte, mas essas são três formas de artexpressão diferentes. O Videodança liga-se intimamente com a situação verbal do corpo em movimento e a ligação desse movimento com o próprio vídeo produzido. Esta modalidade de arte é atualmente uma das que mais esta se expandindo em adeptos e consequentemente em produção. Existem ainda puocos sites que promovem festivais de Videodança, ou simplesmente a sua reprodução, mas acredito que virão muito mais com o passar dos anos.

A produção do Videodança parte de uma conexão corpórea gravada e edita com a finalidade de dar unidade entre o movimento do corpo e a imagem capturada.   Embora haja uma linha bem tênue entre um vídeo de dança comum e o videodança,  existem alguns pontos que são distintos entre eles. A forma de coreografar as imagens e de captura do movimento por exemplo, no vídeo de dança é produzido para mostrar as ações gerais dos movimentos do corpo coreográfico ou do solista tendo a preocupação de mostrar tudo o que faz o dançarino, por outro lado o videodança pode capturar partes isoladas do dançarino com intenções propositais, como também busca uma conectividade dançarino com a edição e a sua projeção cinematográfica.

O Videodança parte de um principio motor bem próximo ao videoart e muitos artistas oscilam entre um ou outro dependendo de quem os aprecia.

Olga Mink, videoartista  holandesa é um exemplo de que essa arte vem ganhando espaço na sociedade com premiações e mesmo em espaços alternativos de encontro de massas. Sua obra tem uma mescla de expressões visuais em movimento: video-dança, instalação-dança e novas mídias gráficas. Mink busca uma ligação entre o espaço de projeção de suas obras, os dançarinos e a edição dos vídeos. Esta artista mostra claramente um dos conceitos frequentemente usado na arte contemporânea que é a hibridização.

O videodança é mais uma possibilidade criadora do artista contemporâneo e sua definição é metalinguística. É linguagem do corpo expressa em corpo-vídeo. Criatividade, pequisa, treinamento e boa edição são as palavras chaves para a criação do videodança.

No BemDito Coletivo em São Luís, tenho realizado oficias e algumas experimetações com videodança uma das produções ja realizadas é o “interferenciacorpoflor”. Que é um videodança que não se propõe a uma definição excludente, mas é uma produção que se realiza de acordo as experiências do fruidor em contato com as imagens geradas externas e internas deste. Mas de forma geral este videodança mostra a conexão do homem  com a natureza e a interferência que estes causam un ao outro. É um videodança crítico, mas cheio de possibilidades de interpretações.

A concepção do videodança pra mim, parte do mesmo principio de onde “o que eu quero dizer?” e “como eu digo isso?” são fundamentais na construção da obra.

O que é processo de criação em arte?


processo de criação
processo de criação

O processo de criação do artista é a parte mais valiosa da obra. Lógico que o produto final é importante, mas é durante o inicio e o término da obra que estão suas inquietações, erros e acertos, dúvidas e certezas, vontade de mudar tudo e o mais importante os seus questionamentos.

Todo artista se pergunta no seu processo de criação, ou pelo menos deveria se perguntar: O eu quero dizer com essa obra?

A obra final de um artista não é o ápice de sua criação, mas descobrir já durante o processo que impactos irão causar no seu público.

O artista vive a obra somente enquanto ela esta sendo produzida, pois quando é finalizada quem passa a vivencia-la é o fruidor, o contemplador de sua obra.

Os processos de criação na atualidade estão sendo cada vez mais valorizados, pois é o instante do autor com sua obra. A construção da obra é um lugar que tem vários caminhos e isso é prazeroso tanto para quem faz como para quem vê.

Mas no campo de investigação dos processos de criação, existem muitos equívocos. Primeiro, o processo de criação é antes de tudo, busca por um produto final que ainda não se sabe claramenteo que é, mas que se tem uma noção de onde se quer chegar. Segundo, mostra de processos não são explicativos do que é processo. Terceiro não se deve ignorar o público assistindo. Os processos criativos são fragmentos que gosto ou mostrar onde “até aqui cheguei, mas ainda não é isso que quero” .

Talvez a palavra mais próxima que defina o que vem a ser processo criativo é possibilidades.

o que é Performace?

De forma geral, Performance pode ser  uma representação, ato-ação, ou qualquer ato pensado que seja realizado fora da caixa cênica com uma critica ou ponto de vista expressivo do performer.  A performance segue um roteiro com coma ações que façam entender a mensagem que deseja passar sendo claro ou não para quem vê, pode ter inicio meio e fim definidos, mas  esse roteiro está ligado na ideia que a performance quer passar. O performer atavés de seu atos, não determina um fim da performance que quase sempre tem uma continuidade infinita, pós ações performaticas na mente de quem participa.

performance: canto do homem cotidiano

As performances podem ser envolvendo musica, teatro, dança, instalações ou em quasquer possibilidades que a imaginação do performance alcançar. Não ha uma regra para a criação de uma performance. Mas é bom que a performance não seja claro de mais, o performer tem que dar pistas em suas ações para que o publico possa entender sua mensagem. Tipico da arte contemporânea.

Algumas performances por seu grande inpacto que causar ra e causam ainda hoje, tais como a performance “Atirar” de Chris Burden realizada em 1971, onde a performance consistia em que ele levasse um tiro de rifle calibra 22.

Outra performance internacionalmente conhecida é a de John Cage intitulada de 4’3”, onde o interprete ficou  para do em frente a um piano sem dar uma única nota musical por 4 minutos e 33 segundos.

o que é dança contemporânea?

Nosso C.U. (Thiago AS)

Na verdade esse assunto é altamente complexo e de riquíssimo valor para que tenta desvendá-lo, pois arte em si, já apresenta uma gama de fatores que a deixa distante de um conceito exato e preciso, mas somente aproximado. Essa arte ganha muito mais questionamentos quando ela começa a se fragmentar, um exemplo disso é a dança que pode ser clássica, popular, hip-hop, moderna, contemporânea e muito mais. Quando se tenta hoje formular um conceito do que vem a ser dança contemporânea o que mais se a próxima é que é uma dança que cada gesto, movimento e ação consciente com musica ou sem música pode ser dança, então tudo é dança? você pode se perguntar, mas a resposta é não! para dança contemporanea todo e qualquer movimento tem um significado de crítica (politica, filosofica e etc) e tem um caráter de inquietar e estimular a visão subjetiva dos assuntos na dança. Dança contemporânea é uma dança de estimulo ao pensamento.
Mas um conceito real ainda está por se formular, pois a arte é viva.